segunda-feira, 5 de maio de 2014

Inocentes mortos - Efeito Sheherazade?

Circula pelo facebook, a foto que você pode conferir abaixo. Atribui à jornalista e colega Raquel Sheherazade, assassinatos, linchamentos públicos de pessoas inocentes julgadas e condenadas pela própria população. Além disso, atribui-se esse espírito de ódio das pessoas envolvidas, à polêmica coluna de opinião da jornalista. Na ocasião ela disse que é COMPRRENSÍVEL que as pessoas, cansadas do descaso do governo e da pífia atuação das polícias, busquem fazem justiça com as próprias mãos.
Circulando num labirinto de significados, os adjetivos COMPREENSÍVEL, ACEITÁVEL E LOUVÁVEL são perdidos numa salada de expressões e frases polêmicas e mal compreendidas. Para sanar dúvidas de forma mais assertiva, com o auxílio do dicionário:

Compreensível - adj.m. e adj.f. Que se consegue compreender; passível de compreensão; fácil ou acessível. Que pode ser percebido; inteligível.
Aceitável - adj. Que pode ou deve ser aceito: oferta aceitável.
Louvável - adj. Digno de louvor. Notável.

Longe de querer justificar as palavras ditas por alguém com formação e cacife para “tocar” a bancada de um jornal em rede nacional, devemos refletir os casos sugeridos na figura de forma antropológica e/ou talvez política. Será mesmo que o que ela disse, desencadeou um ciclo de julgamentos dignos da Idade Média, no seio de nossa tão organizada sociedade?

Será que esses atos de “justiça com as próprias mãos” não são fatos corriqueiros que passam desapercebidos por nós todos os dias. O tráfico faz isso com a sociedade, inserindo em silêncio drogas mortais na juventude, subjugando e destruíndo famílias, sonhos e perspectivas. Sim, eles julgam e executam todos os dias, e isso até então reflete na opinião pública como algo “aceitável”, enquanto deveria ser execrável.

Políticas públicas, em especial da Saúde, são o mais recente tribunal caótico da sociedade. Lá um simples diagnóstico, algo corriqueiro, também pode ser tornar uma sentença de morte, em virtude da falta de estrutura e descaso com os pacientes. Assim também é, em longo prazo, com a educação que afasta o jovem de qualquer perspectiva de inserção social e o atira no submundo das drogas e do consumismo.

Matar pessoas inocentes no calor dos fatos é algo hediondo sim, execrável e de forma alguma deveria ser estimulado. Mas infelizmente trata-se muito mais de uma demonstração cristalina da essência do ser humano contemporâneo, que cansado das mazelas sociais, cansado do descaso, não tem forças ou sanidade mental para medir seus atos e acabam nisso. Julgam e punem, como gostariam que a justiça assim o fizesse. Julgamentos rápidos e penas rigorosas, e assim como na justiça, nem sempre tão justas assim.

O que está por trás disso tudo? Que informações e aprendizados nós podemos observar por trás deste comportamento brutal, que representa um pedido indignado e irracional de socorro, à justiça, às autoridades, à dignidade de se viver num país que vive de ilusões e quando encontra a realidade se choca.