Ontem o prefeito de Jaú concedeu uma entrevista coletiva para falar sobre a epidemia de Dengue no município. Dentre outras pontuações ele destacou as ações que ele deu início na última semana quando haviamos ultrapassado números oficiais de aproximadamente 600 casos confirmados. Falou sobre a nebulização que está sendo realizada nos bairros, falou dos dados estaduais, e mais uma vez fez o que tem feito desde o início do governo: transferiu a responsabilidade por algo negativo à terceiros e atribuiu aspectos positivos da situação, ao seu governo.
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Edição de hoje do Comércio. |
O tipo de entrevista coletiva feita para tentar apagar um incêncio. Mas como apagar um incêndio destas proporções com palavras e números? Há BOATOS, inclusive de médicos e entidades diretamente relacionadas, de que o número de doentes está entre 10 e 15 mil. O que embora sejam apenas boatos, não se pode dizer que é um exagero, porque não há um controle efetivo e nem uma preocupação em documentar a epidemia. Outras correntes dizem que o número de infectados corresponde a pelo menos 5% da população jauense, mas são boatos também. E por falar em incêndio, se a velha máxima vale neste momento: onde há fogo há fumaça, ou vice e versa. O fato é que as contas não batem e fica realmente muito dificil de acreditar que há apenas 975 casos, como foi divulgado pelo governo ontem. E isso já está ficando ridículo para o próprio governo municipal.
Parece que a ineficácia do governo não diz respeito somente à morosidade de como o assunto foi tratado, mas também a estratégia publicitária com que os números vêm sendo divulgados. O que parece cada vez mais claro e real, é que aos poucos (semana a semana) o governo sobe o número significativamente para chegar ao número real de forma "parcelada". A cada nova atualização um novo discurso traz o ar de que a situação não é tão preocupante como parece, um ar zen de que está tudo sob controle, enquanto sabemos das reuniões noturnas e aos fins de semana no terceiro andar do edifício Terra Roxa, onde reina a preocupação e o brainstorm para decidir quais serão as próximas desculpas e justificativas, e para quem a responsabilidade será atribuída.
Duas coisas me incomodam desde o início da epidemia, a postura do prefeito se mantem firme e forte como o homem inocente, vítima das circunstâncias, mas que está fazendo um esforço hercúleo para sanar a questão e sair como um herói. Sem falar da mobilização dos seus secretários que apenas endossam o discurso do alcaide. E nós a cada dia descobrimos mais amigos, parentes, vizinhos, colegas de trabalho, infectados por uma doença que denúncia muitas coisas. Mas principalmente o desleixo de um governo sem postura, sugere uma atuação mimada, do tipo que dá murro na mesa e quer ganhar a razão na base do grito.
Ainda sobre o ecoponto:
Imprensa
Outra coisa que vale salientar é a postura da imprensa, e quando digo imprensa excluo os veículos que dão Ctrl +C e Ctrl+V e divulgam releases na íntegra. Estou falando dos veículos formadores de opinião, como os três jornais, as rádios e a TV. Na página 3 de hoje do Comércio do Jahu, o box "O que pensa o comércio", sintetiza essa morosidade da prefeitura em assumir o controle da situação, em bater no peito e dizer que vai por a casa em ordem custe o que custar.
O diário enfatiza a importância de alarmar a população justamente para que haja mais esforços por parte dos cidadãos. A nota grave foi quando o veículo menciona que é inconcebível e criminosa a hipótese de que os órgãos públicos estariam manipulando os dados. Pois bem, eis o papel da imprensa, ver crime onde aparentemente não há, investigar, criar um cenário investigativo e descartar as hipóteses, pois governo nenhum está à margem das desconfianças. Mesmo que os números estejam ao seu favor o dia-a-dia inloco do jornalista se faz necessário. Sugiro uma semana da coluna SOS Bairros só com criadouros ou situações de proliferação dos mosquitos.